Serviços de Motoboy: as doenças causadas por esse tipo de trabalho

Não é de hoje que a sina de todo motoboy (seja o entregador, seja o transportador de passageiros) é sentir no corpo ao final do dia o peso das horas trabalhadas, rodando em cima de uma motocicleta. Os serviços de motoboy causam sobrecargas ergonômicas e estresses emocionais constantes. Apesar de ser uma atividade trabalhista considerada como “provisória” por muitos que estão na ativa, não podemos desconsiderar os efeitos negativos que ela traz.

(…) O caráter de provisoriedade se lança como um discurso corrente nas falas dos motoboys. É muito comum ouvirmos trabalhadores dizendo “ninguém sonha em ser motoboy” ou “estou apenas esperando algo melhor”. Por esse discurso, percebe-se que essa não é uma carreira que se possa querer ter. Até porque, em certa medida, o máximo de ascensão possível na carreira de um motoboy é ter a sua própria empresa. Como uma mobilidade naquilo que poderíamos chamar de ‘ascensão profissional’ dentro de uma empresa praticamente não existe nessa atividade, há uma sensação de que a motivação para o investimento na carreira é muito pequena. (Fonte: Morais, Tiago Drumond, 2006).

Mas é fato que, com a pandemia, o número de motoboys em todas as cidades brasileiras parece que duplicou. Esse fenômeno não aconteceu por ser uma carreira rentável, mas sim pela necessidade mesmo. O aumento da população de trabalhadores de transportes por aplicativos (carros, motos, bicicletas e até a pé) cresce bastante porque todo mundo vem buscando contornar a crise econômica, fazendo “alguma coisa que traga mais dinheiro para dentro de casa”.

Serviços de motoboy: quais os principais desgastes físicos da profissão

Se você que lê este artigo já trabalhou, nem que seja por poucos meses, na área de entregas ou transporte de passageiros com moto, sabe o que lhe causou passar horas e horas em cima dela. Os estresses do trânsito e as morbidades ergonômicas são as principais problemáticas da área, mas não as únicas.

Como se não bastasse, é comum motoboys trabalharem em qualquer situação climática, tanto de noite quanto de dia, acarretando, não apenas um desgaste diário físico, mas também um desgaste emocional. Vale lembrar também que o desgaste atinge o próprio veículo, principalmente as partes mecânica e a elétrica (tração, luzes e botões etc).

O desgaste mental do profissional motoboy é visível. Ele trabalha sob pressão de vários lados. É uma conta de energia atrasada e que falta dinheiro para pagar, é a compra de alimentos para casa, é a falta de descanso e lazer, é a necessidade de trabalhar mais e mais horas para poder se tirar um pouco mais ao longo do dia…

As dores no corpo são constantes, principalmente coluna vertebral e a região glútea. O motoboy, ao findar um dia inteiro de luta, chega em sua casa com essas áreas do corpo extremamente afetadas, algo que, ao longo do tempo, vai causando problemas corporais acentuados.

Serviços de Motoboy: exigências do corpo e da mente

Condutores de moto para entregas ou transporte de passageiros precisam passar o tempo inteiro ligados, conectados ao aparelho celular. Isso, por si só, exige uma vigilância da informação tremenda, até mesmo uma disputa por galgar posições que a concorrência pode estar galgando. Afinal de contas, um motoboy distraído pode perder várias viagens.

Como se não bastasse, o serviço de motoboy exige um esforço mental acentuado para lidar com o trânsito, algo que, por si só, já é um fator de desgaste até mesmo para quem não faz delivery ou transporte de clientes. A estafa mental e a sobrecarga de trabalho aliadas ao trânsito caótico da maior parte das cidades brasileiras são uma bomba relógio…

Serviços de Motoboy: o desgaste financeiro

O meio de entrega virtual, apesar de a cada ano estar crescendo e, em decorrência disso, aumentando o número de entregadores, não significou crescimento de ganhos por parte desses trabalhadores. Muitas vezes, ocorre justamente o contrário: por aumentar muito a oferta de entregadores disponíveis, os valores das viagens estão tendendo, em algumas situações, a cair. É como se fosse acontecendo um sistema de leilão de deliverys…

Os motoboys e mototaxistas, que já trabalham sob pressão para poder conseguir atingir as suas metas financeiras, precisa diuturnamente trabalhar sobrecarregados e preocupados com o dia de amanhã. Eles dependem cada vez mais deles mesmos: não há previdência, não há descanso semanal remunerado. Se não trabalhar, perdem a grana do dia…

Um artigo publicado em 2020 sobre essa problemática resume o quadro nestes termos:

(…) A profissão dos motoboys tem um excesso de fadiga, pois [estes] exercem tarefas repetitivas e monótonas, ocasionando carga mental (…) [Com isso,] o colaborador ‘começa a fazer uma simplificação de sua tarefa, eliminando tudo o que não for essencial, a força, velocidade e precisão dos movimentos tendem a diminuir’. (…) Com o progresso da sociedade, sobrecarga no trabalho, situações de cansaço e de estresse vêm sendo percebidas com mais frequência nas condições dentro do trabalho e acarretando um aumento de competitividade no trânsito (…).

Alberto Vicente (DRT-5272-BA) é formado em Letras (UEFS) e desde 1997 vem acumulando experiência na redação de textos para blogs e sites.

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